terça-feira, 23 de novembro de 2010

O peso do silêncio

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Impossível caminhar sem sentir. Naquela noite, o ar estava denso e pesado, o céu estava baixo, atrapalhando a caminhada. As ruas, antes movimentadas, não emitiam um ruído. Tudo era silêncio no mundo de Ana. O único barulho audível era o roçar da mochila pendurada nas costas com a calça jeans que vestira.
No começo da caminhada quase não notou. Entretanto, conforme foram passando os minutos, o silêncio preencheu mais a noite do que todos os barulhos do mundo que pudessem ser feitos. O silêncio carregou o ar, deixou a caminhada pesada.

Ah, e o barulho da respiração... Se tornou ofegante conforme Ana foi percebendo que só ouvia o barulho que ela própria emitia. Estava tão acostumada com o barulho dos outros que foi difícil se ver inteiramente só, só com seu barulho e mais nada. Parecia que haviam imposto uma ordem de silêncio, o silêncio era uma lei que até o vento acatara. Olhou o caminho à frente e se espantou. Já tinha andado tanto, caminhado tanto...Por que ainda faltava tanto a percorrer? Começou a acelerar o passo, mas à medida em que acelerava, o caminho se estreitava, o silêncio aumentava e sua respiração ofegava cada vez mais. Passou pelo estado do receio, do medo, da neurose. Agora estava paranóica. Alguém a seguia. Alguém fizera o silêncio da noite estar tão ruidoso. Mataram a todos, estavam todos mortos no mundo. Ela sobrevivera sozinha, esqueceram-se dela. O pânico saltou em seus olhos e o coração disparou. Nem carros passando, nem as folhas das árvores se mexendo. Tudo acabou. Foram-se as pessoas, os animais, os carros, o vento e o ar. Esqueceram-se dela.

Chegou à porta de sua casa e procurou apressada as chaves na mochila. Conseguiu localizá-la só com o tato em meio a alguns outros badulaques. Abriu o portão e foi apressada em direção a porta. O silêncio pareceu se esvair um pouco, o ar descalibrou. Abriu a porta da sala. Tudo como sempre. Deu boa noite aos pais, que assistiam conformados as diárias notícias do jornal das oito,conversando, enquanto o cachorro latia. Fez um carinho nele e foi para o quarto. Quem sabe ali não conseguisse ter um pouco de silêncio, mas um silêncio com barulhos, não o silêncio absoluto no qual estava e que não permitira a ela ouvir seus próprios pensamentos.

11 comentários:

Lindo texto, você se envolve de uma maneira fantastica e quando vê está fazendo parte da história !
Adorei

O que seria o som sem o silêncio, pelo texto, perfeita escrita

parabéns

Como disse o colega acima, o que seria do som se não fosse o silêncio, olha textos muito bacana que nos prende até o final. http://olhaissonet.blogspot.com

adorei mt mt mt , parabeéeens *-*

http://cravoecanelagabriela.blogspot.com

belo texto, passa a essência de muitas das minhas obras, o melhor silêncio é o que nós mesmos fazemos sem depender do mundo la fora.

um blog bem legal, varias imagens de artistas surrealistas, sejam da vertente tradicional ou do popsurrealismo, legal =]

http://bonecozumbie.blogspot.com/

Clarice Lispector... rainha!

o seu texto está lindo,quanta criatividade!
vai lá no meu blog dá uma olhada?
http://fabisocci.blogspot.com/

Olá Ana, o selo chamado "Prêmio Dardos" que e indicado pelo blog Amigos e escrito em Espanhol (locura né?)! É um dos selos que mais roda entre os blogs para que blogueiros homenageiem outros blogs pela qualidade. Não sei se você sabe sobre este hábito de blogueiros se presentearem desta forma. Qualquer coisa eu explico. O selo que você ganhou tem algumas regrinhas mas é legal para aproximar você de outros blogueiros e aumentar a popularidade de seu blog! =)

Abraços!

http://neowellblog.wordpress.com/

As vezes o silêncio nostraz paz

ola, adorei o blog, ja vou segui, quando de da uma olhada no meu ta http://gloogle-entretenimento.blogspot.com/

Oi Ana, tem um presentinho pra vc no meu blog, confere lá!

Beijos!

http://desquotidiano.blogspot.com/

O silêncio é uma glória, belíssimo texto.