sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Elisabeth

18


Ela não aguentava mais aquilo tudo. Sempre a mesma coisa, parece que o ciclo da vida se resumia a isso. A vida não era mais que isso, nunca seria. Pelo menos para ela. Quando foi que perdera o controle? Tentou forçar a mente a chegar a uma data conclusa mas foi em vão. Não sabia exatamente em que ponto se perdera, em que ponto perdera o controle sobre si mesma, mas sabia que havia sido em um daqueles meses do verão de 1978. Fora lá, em meio a brincadeiras e paixonites de adolescente que perdera o controle dos anos que lhe restavam. Muitos ainda.

Fora na casa de campo da família que conheceu Marco. Ambos eram jovens e tinham em si o espírito dessas pessoas que ainda não foram marcadas pelos tantos reveses da vida. Ficara encantada ao olhar para ele. O homem dos sonhos, tudo o que sempre pensou como forma ideal estava ali, prostrado diante dela, sorrindo o sorriso mais belo e simpático que já havia presenciado. O amor bateu em cheio. Foi à primeira vista. Elisabeth não acreditava, até o presente momento, em amor à primeira vista, mas aquele foi. Ah, e como foi! Impossível designar uma palavra melhor para o que sentiram aqueles dois jovens no verão escaldante de 78. Um verão inimaginável para ambos, que acarretaria mudanças eternas e daria um rumo totalmente diferente às suas vidas.

Quando chegara à casa de campo dos tios em Itabira, Elisabeth não podia sequer supor que fosse sair de suas curtas férias interioranas grávida de gêmeos. Aliás, quando saiu de lá ainda não sabia que estava grávida. Ela e Marco se encantaram um pelo outro, e acabaram se encantando tanto que esqueceram de qualquer tipo de proteção. Uma gravidez com 17 anos não era exatamente o sonho de vida de Elisabeth, assim como o de qualquer outra garota na mesma idade em que ela estava.

Descobriu a nova linhagem que estava por vir dois meses depois de passadas as férias de veraneio. Ela e Marco namoravam. Quando contou que estava grávida, e de gêmeos, Marco caiu de costas. Literalmente. Alegou que a criança não era sua e deu no pé. Como moravam em cidades diferentes e a família de Marco pouco conhecia a de Elisabeth, foi fácil perder o contato. Ela tentou abortar mas já era tarde demais para esse tipo de procedimento. No fim acabou se conformando com as crianças que viriam. E vieram. Deram tanto trabalho para Elisabeth que ela achou que fosse morrer de infato do miocárdio. Sobreviveu. A mãe de Elisabeth cuidava das crianças quando ela ia para o trabalho, das sete da manhã as sete da noite. E a vida foi assim.

Faz muito tempo que os filhos cresceram. Contam 32 anos, o menino Michel e a menina Michele. Elisabeth passou, com o tempo, a repudiar o amor, e sempre que parecia que ele iria surgir, ela mesma tratava de se esconder e não se deixar ser pega. Se tornou uma pessoa amarga e pouco doce. Os filhos eram ao mesmo tempo o retrato de seu maior amor e sua maior angústia, por terem lhe tirado os anos de mocidade e juventude que ainda poderia ter vivido. A maior tristeza da vida de Elisabeth foi constatar, ao passar dos anos, que o amor à primeira vista existia sim, mas que ele podia também ser a maior decepção da vida de quem ama e se tornar apenas um retrato antigo pregado na parede e entristecido pelo tempo.