sábado, 28 de julho de 2012

Mãe

0



Não acredito que você se foi. O vazio por aqui está infinito...Não sei se vai amenizar um dia a dor que estou sentindo pela sua perda, mesmo com todos dizendo que a dor vai embora, ficando somente a saudade...

Mesmo morrendo de saudade de você, indignada pela sua partida, uma coisa me conforta, e muito. Eu tive tempo, mãe. Tempo de falar pra você o quanto te amava...tive tempo de te colocar pra dormir todos os dias, durante muito tempo, tempo de comprar tudo o que você estava com vontade, tempo de conversar sobre tudo, tempo de te tranquilizar...tempo de te amar incondicionalmente e largar absolutamente tudo pra estar ao seu lado.

Meu amor por você é infinito, e só vai aumentar com o passar do tempo...Mesmo você estando longe de mim, meu amor não vai deixar nunca de crescer cada vez mais, não irá se passar um único dia sem que eu morra de saudade, sem que eu reze por você, sem que eu lembre do seu sorriso lindo e da sua voz acalentadora.

Justo você mãe, justo você foi embora...tudo o que eu mais amei...foi embora com você! Mesmo tendo feito a passagem, continuará sempre viva dentro de meu coração. Sempre tive medo de te perder...a única coisa da qual realmente tive medo na vida. Não tenho mais medo de nada na vida...a única coisa que temo é talvez nunca te ver novamente. Espero que exista tudo o que dizem que existe do lado de lá...espero que logo possa te reencontrar, te dar aquele abraço bem confortante e aquele beijo bem demorado na bochecha, que só que costumava te dar. Todos aqui estão inconsoláveis. Obrigada por tudo, pela força absurda que sempre teve, pela alegria contagiante de todos os dias, pelo senso de humor inabalável e pelo carinho sempre dispensado a nós. Você me mostrou o que é ser forte, o que é amor pela vida e sobretudo, o que é o amor pela família.

Vai em paz minha guerreira, minha melhor amiga, meu amor, minha mãe. Até que eu de novo te encontre, que Deus lhe guarde na palma da mão.

Lembra?...

" Em cada recanto, e no coração de todos os que nos acompanharam, fica um pouco da história de nossas vidas; o riso solto da infância, os sonhos da adolescência...Pressentida saudade deste presente, nos longes do meu futuro."

domingo, 15 de julho de 2012

1



A menina das tranças no cabelo corria de um lado para o outro da casa, sem parar, fazendo ranger a estrutura velha do antigo casarão com ares de abandono na rua sem saída em que viviam. A madeira já ressequida pelo tempo rangia ao menor toque das solas de sapatos cautelosos, dos sapatos da pequena criança então, as madeiras passavam a emitir uma sinfonia desordenada de sons desconfortáveis que ecoavam pelos corredores vazios da casa. E parecia que quanto mais barulho emitiam as madeiras, mais a menina corria, pulava e ria. Ela gostava do som, em contraste ao silêncio de tudo aquilo. A quem olhasse, parecia que a menina das tranças amarelas preferia ver o casarão desabar a continuar ali, dia após dia, naquela solidão habitada e tão pouco hospitaleira em que vivia.

A mãe da menina já há algum tempo não saía da cama. Pela casa antes o que se ouvia era movimento, risadas, conversas incessantes e animadas, todos os dias sem parar. Mas, junto com a saúde da mãe da menina, também se foram os risos e as conversas animadas, o brilho nos olhos de todos os que lá viviam. O pai já havia lhe dito, à menina das tranças, que cedo ou tarde a mãe nem mais lá deitada estaria, devido à sua saúde precaria. Mas a menina não se conformava e mesmo contra todas as expectativas, resolveu ter esperança, por mínima que fosse. Preferia brincar e correr pela casa, ranger tudo o que pudesse para que o silêncio ficasse menos silencioso. Preferia a falta de sossego que preenchia a casa antes ao excesso de silêncio agora. Mesmo que ninguém falasse nada, o silêncio caía sobre todos como uma sentença, uma condenação ao que todos já sabiam. O barulho que fazia, em contraste à mudeza de todos, funcionava como um protesto à morte, à dor e a solidão.

E os dias passavam assim, entre silêncio, rangidos e medo, medo daquele fim que ameaçava, sempre pairando no ar, mas ainda clemente perante as preces e os barulhos incessantes da menina.

Tempo

0

"Quero valsar aquela antiga canção, que dizia que o tempo era meu, que faria com ele o que bem quisesse, que tudo sempre estaria lá, que tudo sempre retornaria. Só mesmo naquela velha canção, já rouca pelo tempo, é que as coisas assim se dão. O tempo e o vento, aprendam, só traz saudade e desalento, carregando consigo a felicidade de ontem."