sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fragmentada

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Não sei o que acontece, se é só comigo ou se tudo é parte um plano generalizado pra me enlouquecer. Ou me entristecer fatalmente. Só sei que tudo vai de mal a pior e não consigo mais ver saída ou ter esperança de coisa alguma. É o momento em que tudo que eu acreditava deixa de existir e tudo o que eu pensava que podia contar, como alicerces sólidos de uma construção, resolveram desmoronar. Ao meu redor sobraram somente escombros. E uma barata, que ainda por cima caiu em cima de mim hoje depois do almoço. Para completar meu momento de epifania, só faltou tê-la mastigado lentamente, tal qual G. H de Lispector, procurando reverter o quadro de sua vida moribunda, assim como a minha.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Confiar - Filme

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    Assisti hoje ao filme Trust. Confesso que no começo não botei muita fé, me pareceu ser mais um filme adolescente. Mas me surpreendi, principalmente pelo modo como a temática foi abordada.
    No filme, a jovem Annie, de apenas 14 anos sofre um estupro após ter conhecido um cara da internet. A princípio o filme poderia ser apenas uma liçãozinha de moral, de como devemos ter cuidado com qualquer relacionamento que comece na rede. No entanto, o filme se revelou ter um roteiro brilhante, mostrando como o caso ocorrido com a filha do meio do casal interpretado por Clive Owen (que pesou muito na minha decisão de assistir a esse filme) e Catherine Keener (outra atriz que, apesar de ter menor visibilidade, gosto muito) afetou a vida de toda a família.
    Annie conhece Charlie, seu amigo virtual, em um chat na internet. A princípio, Charlie diz ter apenas 16 anos, somente dois a mais que ela. Encantada com a forma como Charlie parecia maduro, Annie se envolve cada vez mais. Entretanto, aos poucos Charlie vai revelando sua verdadeira identidade. Ainda sem conhecê-la pessoalmente, revela que na verdade sua idade é de 20 anos e que está no primeiro ano da universidade. Após um curto tempo, faz nova revelação: não tem 20 anos, mas sim 25. Embora relutante com relação à idade, Annie continua falando com ele. Está apaixonada.
    Em um dia, quando seus pais viajam para levar o irmão mais velho para a nova casa em outra cidade, pois ingressou na faculdade, Charlie pede a Annie que se encontrem num shopping. Ela topa e é aí que começa de fato a história.
    No shopping Annie vê Charlie, e vê também que ele não tem 25 anos. Sua idade é de no mínimo 35. Com uma conversa fiada pra boi dormir, o tiozão acaba convencendo a menina de que ela é sua alma gêmea e que eles tem forte conexão. A partir daí, leva a menina pro motel e a força a manter relações sexuais com ele.
O interessante do filme é justamente o modo como o estupro se realiza. Todos tem aquela ideia de que é estupro quando alguém é violentamente violada, quando há ataque, luta. Mas não é isso que acontece no filme, que mostra o preconceito das pessoas em aceitar que o que Annie sofreu nada mais foi do que isso: um estupro.
    Annie não vê mais o agressor, que foge da polícia em seu encalço, pois é procurado por casos anteriores de estupro com menores de idade. Mostra a partir daí o abalo da família e a luta em voltar a viver normalmente. Dá grande enfoque a situações cotidianas carregadas de uma sensibilidade ímpar, que faz valer a pena por si só.
    Outro ponto interessante, e que se mostra no filme, é que o estuprador é um pai de família, professor, pessoa normal do círculo social. Enquanto todos se preocupam com maníacos do parque, o perigo pode estar mais próximo e com a cara mais comum que se possa imaginar. Boa dica de filme pra quem quer passar um tempinho na frente da telinha.