sexta-feira, 17 de junho de 2011

Juliette

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Estava se cansando daquele vai e vem o tempo todo. Era um entra e sai constante. O corpo de Juliette não tinha folga, era usado da hora em que acordava até a hora em que ia dormir. As vezes, até mesmo na hora em que já dormia. Sua mente, entretanto, ao contrário do corpo, vadiava o dia todo, a noite toda, em busca de horizontes ensolarados e noites estreladas. Pensava num mundo distante, pensava em ser a heroína, em acabar com a fome, em fazer cessar as guerras do mundo, em ser famosa, admirada, aplaudida e reconhecida pelo talento que tinha. Sim, pois Juliette tinha muitos talentos, eles apenas ainda não haviam sido descobertos (nem por Juliette, nem pelo resto do mundo). Mas bonita do jeito que era, tinha de ter alguns talentos encobertos.
Queria fazer muitas coisas diferentes, queria ajudar os necessitados (embora fosse uma), queria poder dormir em uma cama macia de lençol rosa com almofadas floridas, queria poder ir à missa aos domingos a noitinha. Mas não era possível, o movimento dos clientes não dava uma trégua.
Pensava em ir à missa para se aproximar de Deus. No quarto em que atendia a freguesia, no cafofo onde morava, construído com papelão e uns pedaços de madeira, tinha uma imagem de jesus que olhava sempre pra ela. E ela olhava sempre pra ele, enquanto trabalhava. Juliette trabalhava tanto que não sabia se isso a fazia ser mais puta ou mais santa.