segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ânsia

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O líquido era espesso e esbranquiçado, morno a quem lhe tocasse, e caminhava lentamente por entre as pernas de Dorinha. A saia da menina estava suja de graxa e as pernas com pontos arroxeados pelos hematomas. A cabeça dela estava pensa para o lado esquerdo, apoiada na parede carcomida pelo tempo e pichada pelas gangues. Era um beco sem saída, sem iluminação. A vista de quem passava no início da rua não alcançava a parede onde se apoiava a cabeça de Dorinha, cujo corpo estava estirado no chão de pernas arregaçadas e de roupas rasgadas.

Aos poucos, o sangue do estômago da menina, vindo de um ferimento ocasionado por uma faca quando tentava se esquivar de seu triste fim, começou a se juntar ao líquido já incrustado na perna, dando um aspecto rosado ao sangue que escorria de um fio pela perna morta da criança, caminhando pela calçada cinzenta, saindo por debaixo do corpo da menina e desviando dos pedregulhos e outros obstáculos que havia a frente, chegando perto do movimento da rua adiante. Mas acontece que ninguém seguiu o fio de sangue de volta até o corpo de Dorinha, porque no meio do caminho o sangue da menina acabou se juntando com outros fios de sangue que escorriam de outros corpos, formando um rio vermelho em meio ao trânsito e à correria do dia a dia sem que ninguém notasse. E os que notavam aquela maré vermelha, já tinham se acostumado àquela tonalidade vibrante do rio e ao cheiro forte que exalava.

9 comentários:

nossa bem chocante , mas gostei da manenira que retratou, hoje vemos várias coisas horriveis que são ignoradas por todos, pois vivemos em mundo tão violento que algumas coisas absurdas são tidas como normais !!!

é bem impactante. A frase final então, tornou-se algo normal, ninguém se surpreendia ou se importava.

http://umdiaentenderei.blogspot.com/

Gostei do seu blog. Acabou que deixei o meu primeiro comentário la no post sobre Monteiro Lobato. Até esqueci de agradecer a visita e opinião. É realmente muito complicado. Por vezes acho tudo besteira, já em outro momento pensa na possibilidade de ser um sinal ou algo do tipo. Complicado =/

Adorei a sua descrição.. é lírica e não menos chocante - como pede o tema!

A parte final é tão condizente com a verdade que incomoda!


Parabéns!

;D

Parabens mto bom
smilekiid.blogspot.com

pessoas tão frias, que ao caminhar da rua nem notam um corpo sem vida..

Seu texto me lembrou um conto do Bukowski de um cara que violenta uma menina, e cada cena brutal é detalhadamente descrita, é horrível, nojento, mas ao mesmo tempo excitante, do jeito que é a escrita ácida e atraente do Velho Safado.
Da uma procurada!

www.teoria-do-playmobil.blogspot.com