sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Aconteceu no bar

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Acontece que José tinha falado. Antônio, o pai, não sabia do que se tratava, mas seu filho sabia. Ele havia dito. No dia anterior, quando estavam na corrida de kart promovida pela pequena cidadezinha do interior de São Paulo, José chegou de mansinho ao lado da moça e disse:

- Qual o nome da moça?

- É Lourdes - disse com uma faísca de safadeza acendendo no olhar.

A partir de então se entremearam por uma conversa longa, cheia de olhares ilícitos e descabidos. Ilícitos sim, pois Lourdes era casada e José soube disso logo no início do papo, mas não se importou e continuou dando em cima mesmo assim. Quando caiu a noite, Antônio puxou o filho pela braço e foram embora do recinto, que após o término da corrida, promoveu uma espécie de exposição de carros antigos e passaram uma noite agradável com o restante da família.

No dia seguinte, logo pelo meio dia, José e Antônio saíram para comprar o frango assado que iria à mesa naquele almoço de domingo e toparam com Elizeu. Elizeu fora colega de escola, ainda no fundamental, da época de José. Vendo-o parado e frente e lembrando do antigo colega, José logo lhe saudou:

- Há quanto tempo companheiro! Achei que tinha se mandado daqui! Como vai?

- Fui embora, estou aqui por conta do feriado, vim ver o resto da família. Mas à parte isso, que sorte ter te encontrado, estava te procurando.

- É mesmo? Que houve?

- Houve - disse Elizeu - que você passou o seu dia inteiro de ontem cantando minha mulher, a Lurdinha, só porque não pude estar presente.

Ficando sem graça, José lhe pediu desculpas pelo ato falho, pois não sabia que Lourdes era mulher de Elizeu.

- Não me importa! - disse o marido inconformado e estranhamente transtornado - é uma questão de honra acertar as contas com você. Voltei para a cidade e no segundo dia que estou aqui descubro que toda gente que aqui mora está me chamando de corno!

Começou um bate boca desnecessário que não levou nenhum dos dois a parte alguma, só servindo para aglomerar uma pequena multidão em volta. Separados pelos que ali estavam presente para que não chegassem às vias de fato, cada um foi pro seu lado, seguindo seu rumo, mas Elizeu deixou cravada sua promessa na frente de todos que ali estavam - Te mato - e foi embora.

José não levou em conta e o pai lhe disse para não se meter mais com mulher de aliança no dedo, coisa que José tinha mania. Com o cair da noite, pai e filho foram num boteco próximo à casa de onde moravam, costume que gostavam de seguir à risca todos os dias. Entretanto, aquele dia não foi como os outros. Elizeu estava lá.

- Surpreso?

- Um pouco - respondeu o filho de Antônio.

- Vim cumprir com o prometido. Sou homem de verdade e daqui não arredo o pé enquanto não ver teu corpo sem vida.

O pessoal do bar achou graça na briga. Nunca nada acontecia naquela cidade, todas as ameaças foram infundadas e não cumpridas. Mas a de Elizeu seria, embora eles ainda não soubessem. Para variar, duvidavam de Elizeu. Só porque era mirrado, pequeno de dar dó, magro saído da seca do sertão nordestino e com uma cara de tonto que pasmava a todos. Mas de tonto ele só tinha a cara, de resto era bicho ruim mesmo, amargurado pela vida. Sempre duvidavam dele, achavam que nunca seria capaz de nada, de nenhum grande feito. Dessa vez seria diferente. Sacou o revólver antigo que pegara nas coisas do sogro na noite anterior e mirou no pessoal do bar. Os homens que até então estavam rindo, recuaram assustados. Foi então que Elizeu apertou o gatinho e fez a bala sair do tambor, indo parar milimetricamente no meio da testa de José. Ainda apontando a arma para os demais, pegou um facão que estava por perto e destacou a cabeça do corpo já sem vida. Mandou o resto do povo chamar a polícia e dizer o que ele havia feito, enquanto saia de cabeça numa mão e arma na outra.

Foi até a praça central da cidadezinha para mostrar a quem passasse seu grande feito: a cabeça recém assassinada e gotejando o sangue de José. Quando cansou, botou a cabeça do rival por entre as pernas e sentou no meio fio enquanto todos olhavam assustados o homem com a cabeça ao pé esperando o camburão da polícia chegar. Grande feito o de Elizeu.

6 comentários:

um jaguara e um maníaco. Se meter com mulher dos outros é pedir para tomar pipoco, embora não tenha realmente corniado seu amigo de infância. Este, maníaco, mente insana, que nem você disse, amargurado pela vida. Que triste e tenso este final. Mas gostei, que bela história.

http://umdiaentenderei.blogspot.com/

nossa....

blog legal, mto legal! parabéns!

http://lopesnathalia.blospot.com

bjus

obs: não consegui postar com minha conta google... :/

meu deus, não consigo sequer dizer alguma coisa. se a intenção era chocar, great. muito intenso! gostei do blog.

realmente, tenho que concordar, o texto eh muito bem escrito oq nos provoca uma sensacao de choque conforme se aproxima do fim
parabens

http://assuntosparalelos.wordpress.com

O Velho ditado que não perde o seu valor, mulher casada é chave de caixão. Ninguém sabe o poder de fúria dentro de um homem até instigá-lo.

Por isso que sigo a regra que diz..mulher de amigo meu, pra mim é homem.

Grande Abraço.

www.bloginoportuno.blogspot.com

Bons Ventos!!