sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amélia

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Amélia era mulher de verdade. Tinha toda vaidade do mundo, se cuidava toda, todo dia a toda hora. Gostava de produzir-se, por dentro e por fora. Vivia em salões de beleza e em cursos de História da Arte. O intelecto acompanhava a beleza de Amélia. Tudo o que estava a seu alcance ela fazia. Costumava brincar dizendo que existiam várias Amélias, cada qual para uma função diferente. Havia a Amélia dos filhos, que cuidava o máximo que podia, ajudava nas lições de casa, os levava para passeios, arrumava seus brinquedos e realizava seus desejos, quando possível. Havia a Amélia esposa de Roberto, aquela dedicada ao marido, que se produzia e se enfeitava, estava sempre inovando o casamento, saindo da monotonia da rotina, criando situações inovadoras para que o casamento recuperasse o fôlego de tempos em tempos. Havia a Amélia professora, que empreendia todos os seus esforços para que cada aluno conseguisse superar seus limites e tirasse boas notas para engrandecer seu boletim escolar, assim como sua vida acadêmica. Havia a Amélia jogadora de vôlei do clube de campo do qual era sócia. Desempenhava essa função somente duas vezes na semana, de quarta-feira e sábado, mas quando jogava, era pra valer, parecia que a quadra de vôlei destinada à amadoras donas de casa era tomada por uma exímia jogadora do mais alto nível. Havia a Amélia filha da dona Joana e do seu Tonho Zé, carinhosa, cuidadosa, atenciosa e sempre presente. E havia também a Amélia mulher, aquela que se produzia para si mesma, aquela que lia livros bons e ruins, revistas de moda e cultura, aquela que ficava só com seus pensamentos – e haja tempo pra arranjar tempo pra isso – mas ela conseguia.

Amélia conseguia fazer tudo o que queria, fazia tudo com perfeição, nada lhe escapava. Tudo era sempre perfeitamente feito quando era feito por Amélia. Ela não servia aos outros, servia a si mesmo. Fazia o que queria fazer, o que lhe agradava, o que a deixava bem consigo mesma. A epifania da vida de Amélia era fazer coisas. Tudo o que queria era fazer as coisas que queria fazer. E fazia. Nada lhe dava maior prazer do que isso, nada a fazia se sentir mais viva. E como vivia. Vivia plenamente, gozava da vida como se seu último suspiro fosse ser dado dali um minuto. Aproveitava cada átimo da existência para que nada tivesse sido em vão. Afinal, pensava ela, quando morrer meus filhos lembrarão de mim pelo tempo em que viverem, em suas horas vagas. Depois deles, ninguém mais se lembrará. De que valerá então minha efêmera vida se não aproveitar o quanto posso?

E estava certa Amélia. Com o passar dos anos, nem os cremes de beleza seguraram sua pele, que despencou em pelancas pelo esqueleto idoso. A beleza de antes foi embora, restando somente o adquirido nas aulas de História da Arte e nos tantos livros comprados às pencas pelos sebos da vida. Depois, nem isso restou mais. Foi-se o esqueleto, a beleza, os livros e a essência. Ficaram os filhos que depois de um tempo, foram-se também. Então nada mais restou, a não ser uma linhagem de seus próprios genes que não conhecera, espalhando-se pelo mundo. Por isso viveu quando teve vida.

Não poderia te-la vivido depois.


11 comentários:

mt bom parabens pelo blog
estou te seguindo espero que vc retribua


http://planetahuumor.blogspot.com/

Nossa bateu uma tristeza aki lembranças, vejo isso na minha familia pouco tempo irmão bagunça em casa agora cada um indo para um lado construindo suas vidas, mais o importante q continuemos unidos

o importante nessa vida é curtir aquilo que é temporário, enquanto podemos.... mas cultivar e valorizar mesmo, só aquilo que vai durar e que vamos levar depois daqui..... gostei do conto

http://leonardoangelos.blogspot.com

ha eu curti seu blog super interssante!
da uma olhadinha no meu vlw ate mais!
www.socialblognet.blogspot.com

Oii linda, estou te seguindo apartir de hoje. Pode retribuir ?

http://raylanelaeda.blogspot.com/

a propósito, adorei teu textinho. :~

Oiee.. faz tempo que pedes meu banner' deve ter desistido pela minha demora =X

so clica lá na caxinha e aperta Ctrl+C que dá meu anjo, é que ta bloquedo o botão direito pra nao ter cópias XD mais rola Ctrl!

Já peguei o seu e me desculpa essa demora' >.<''
Seu blog tá ótimo! ;*

www.ylaviolet.blogspot.com

muito bom o texto ...

" como se seu último suspiro fosse ser dado dali um minuto "

engraçado,como seu texto consegue descrever bem minha existencia

Ah, Ana eu sei bem o que é isso, deixei minha carreira profissional, para ser uma Amélia poetisa...rs
Cuidar de filhos, marido e casa, as vezes dá a sensação de que nada do que faço é importante, embora em outras horas eu perceba a verdadeira importância disso...
Sigo com prazer o teu blog.
Abraços, e étimos festejos de fim de ano.

A amélia teve a vida que todos queriam ter. Aproveitar a vida ao máximo, viver ao máximo. Só que chega uma hora que o corpo não suporta, nada é mais como o mesmo, resta apenas a lembrança e a próxima geração de amélinhas haha

http://umdiaentenderei.blogspot.com/

muito muito bom...gostei demais...abçs

http://vauneiguimaraes.blogspot.com/

A vida da amélia era uma vida invejável... pois todos tem uma hora.
abraços.
gostei muito do blog!