terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cem anos de solidão

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A narrativa fantástica de ‘’Cem anos de Solidão’’ tem ares da mais completa banalidade, sendo todo o romance salpicado por momentos pitorescamente cotidianos. O autor colombiano Gabriel García Márquez faz de algumas experiências pessoais o arcabouço para escrever sua principal obra, recheada de fantasias, misticismo e nostalgia, tornando-se um clássico do chamado realismo fantástico. A narrativa cíclica nos dá a sensação de continuidade e repetição com o passar do tempo: é a abolição da estrutura tradicional.

O romance relata a saga dos Buendía, que se inicia com a criação da fictícia Macondo, terminando quando ocorre a decadência do vilarejo. Macondo é fundada pelo patriarca José Arcádio Buendía e sua esposa Úrsula Iguarán, juntamente com algumas outras pessoas. A partir de então, a família Buendía passa a ser o eixo central da história, que termina quando o último Buendía consegue decifrar as escrituras que prediziam o futuro da família. Com uma quantidade infinita de Aurelianos com o passar das gerações, o fim de todos nunca é diferente: a solidão. A narrativa fantástica beira o absurdo, influências claras de García Márquez pelo escritor tcheco Franz Kafka. Em meio a pessoas centenárias, chuvas que duram anos, espíritos agoniados, amores eternos e incestuosos, crianças com rabo de porco, sanguinários guerrilheiros, misteriosos ciganos, epidemias de perda de memória, cortejo de borboletas amarelas e belezas esplendorosas, como a de Remédios, a solidão é uma veia sempre pulsante no corpo do livro, correndo por todos os lados e abarcando toda a estirpe dos Buendía sobre a terra. A saga da família que viu Macondo nascer e morrer é triste e emocionante.

Durante toda a leitura, percebemos um tom nostálgico na narrativa, como se García Márquez relembrasse sua infância e histórias que ouviu quando pequeno. O livro tem um quê de fábula, histórias da carochinha que vão acontecendo numa realidade um tanto alternativa, mesclando componentes reais da realidade latino-americana com o mundo mágico de Macondo, tendo os Buendía que passar por episódios importantes da história da Colômbia mesmo na ficção, como guerras civis, ditaduras e imperialismo. Segundo García Márquez: “A literatura não precisa inventar quase nada, a realidade é toda inacreditável quando se decide visitar e desvendar certos capítulos da história”, assim, ele constrói uma narrativa fantasiosa pautada na realidade inacreditável por ele descrita, como o surgimento do imã, da lupa e do gelo na fictícia Macondo.

Depois de mais de 40 anos de sua publicação, não é difícil entender o porquê de Cem anos de solidão ser uma obra única e inesquecível: “Cem anos” é um épico da América Latina, uma cartilha completa dos costumes e tradições de um povo pouco valorizado em termos de literatura até então, que surge com uma história forte justamente à época do “boom” literário sul americano. Embora García Márquez escreva lindamente, o livro vale sua força de sua história, com a qual todos se identificam, embora pareça surreal, à primeira lida. Podemos não ser vítimas de uma maldição, mas todos carregamos algo de só em nossos corações, não se findando essa solidão com o passar dos cem anos, mas persistindo eternamente enquanto houver vida sobre a terra.

7 comentários:

Fiquei aqui imaginando um roteiro de "Cem Anos de Solidão" nas mãos do Luis Fernando Carvalho. Deve ser, sem dúvida, uma linda obra que mostra o quanto é rico ser latino, todos os costumes e crenças do nosso povo. Além de ter como pano de fundo a solidão, grande estado do ser humano.
Amei a linguagem e a forma como fez a resenha. Parabéns! Vou seguir seu blog.

http://aldeiacult.blogspot.com

Ótimo texto sobre o livro! Ótima escrita, parabéns!
É difícil encontrar resenhas literárias tão bem escritas!

Que bom meu amor! Amei ver sua resenha no seu blog. Que lindaaa!
O amor tá sempre aqui pra te prestigiar!XD
Te amo mais que tudooo amorzinho, sempreeee!
Universo de beijos na minha amada!

Eita.. ficou bom o texto..

eu sempre leio coisas boas sobre o Garcia mas nunca li nada dele...

Boa dica...

Fiquei curioso , gosto de autores do realismo mas não conhecia essa vertente de "Realismo fantastico" vou procurar , me debruçar nessa obra :D e descobrir

DEMAIS SEEU BLOG, TO TE SEGUINDO
SE QUISER...
http://podercrer.blogspot.com/

ABS

Muito boa a sua resenha sobre a grande obra de Gabriel García Márquez, um ícone da literatura hispano-americana! Gosto muito de suas obras; recentemente, li "Memorias de mis putas tristes" - fica a dica de leitura!

Deixei o link de meu blog para a visita em sua última postagem, que comentei ainda pouco... e vou te seguir, ok?