sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O choro de Anita

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No dia 22 de maio de 1972 nasceu Anita, durante a manhã fria e gelada que fizera. Anita nascera como todos os outros bebês, vermelha de sangue e chorando sem parar. Seus pais comemoraram sua bem sucedida chegada a esse mundo de forma entusiasmada, pois esperavam por um filho há tempos.

Entretanto, com o passar dos dias, perceberam que Anita não era uma garota como outra qualquer. Seu choro era constante e incessante, Anita chorava dia e noite sem parar. Não parava nem para que fosse alimentada, dessa forma tiveram que introduzir a comida através de sonda, para que ela não morresse de fome. Os médicos, enfermeiros e familiares da pobre criança empreendiam todos os esforços para que lhe cessasse o choro mas não adiantava, tudo era em vão. Anita viera ao mundo para chorar.

Conforme o tempo foi passando, os resultados dos exames médicos foram saindo e constataram que Anita não tinha problema algum de saúde, nem físico, nem mental. Quando aprendeu a falar (e falava chorando), todos descobriram o motivo do choro de Anita: temia sua passagem efêmera pela vida e ficava triste com isso.

- Vim ao mundo já me despedindo dele, pois sei que um dia irei embora! - falava em prantos.

As pessoas que viviam com Anita tentavam dissuadi-la de sua tristeza, alegando que de nada adiantava lamentar pela efemeridade da vida se ela nada vivia. Mas Anita não cedia, chorava noite e dia sem parar, despedindo-se do mundo que lhe dera a chance de viver, mas que ela não aproveitava. Anita não vivia, apenar existia, junto com seu choro.

Os anos foram passando e Anita, chorando. Muitos anos após seu primeiro suspiro de tristeza, já no ano de 2061, quando a chorosa Anita já estava com 89 anos, ela resolveu parar de chorar. Sem mais, numa bela manhã de primavera, acordou disposta a esquecer o choro que lhe perseguia até o sono e decidiu parar de temer a morte e sua passagem rápida pela terra. Sua empregada, que todas as manhãs estava acostumada a ouvir a lamúria que vinha do quarto de Anita assim que ela acordava, estranhou não ouvir som semelhante aquela manhã e subiu para ver o que estava acontecendo. Quando abriu a porta, viu Anita com um sorriso no rosto, o rosto envelhecido, mas mais que o normal, os olhos fundos e sombrios de toda uma vida de tristeza lhe davam uma velhice superior ao que é capaz ao homem viver. Assim, Anita lhe disse:

- Já me lamentei muito por minha passagem ser tão rápida pelo mundo e penso que isso de nada adiantou. Acabei perdendo o que poderia ter vivido, chorando. Vou ver o que consigo aproveitar, agora sim, de minha breve vida.

Foi então que um coágulo que estava há cinco anos no cérebro de Anita, causado pelas tantas dores de cabeça que tivera devido ao choro constante, resolveu estourar, fazendo cair por terra tanto seu corpo quantos seus medos, assim como sua recente vontade de começar a viver. Que pena que somente no último dia de vida Anita teve consciência de que não são quantos dias vivemos que faz a vida valer a pena, mas sim como foram vividos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sonhos...

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Só quem desiste sabe o quanto custa deixar de lado sonhos exaustivamente sonhados e não colocados em prática. Ou quando colocados, os sonhos que por tantas vezes idealizamos, não se concretizam como da forma sonhada. Talvez seja esse o preço por sonhar tão alto, a realidade não idealiza os acontecimentos, como fazem os sonhos. Talvez por isso seja tão mais belo sonhar que viver acordado!

"Nunca se afaste de seus sonhos, pois se eles se forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir".   Charles Chaplin.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O sonho de Socorro

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Desde pequena, Socorro tinha um sonho. Não era um sonho comum como o das outras meninas, ela não queria encontrar seu príncipe encantado ou ganhar sua boneca preferida no dia de seu aniversário. O desejo de Socorro não era pra agora, mas ela ansiava em realizá-lo. Quando revelava aos outros seu sonho de vida, alguns ficavam preocupados enquanto uns achavam graça, dizendo ''São coisas de criança!".

O sonho da pequena Socorro, de 9 anos, era ser enterrada com o anel de pérolas de sua avó Maria. O anel que vó Maria vivia dizendo que gostaria de levar com ela pra debaixo da terra. Acontece que Socorro amava aquele anel desde pequena, e se sua avó morresse e com ele fosse enterrada, Socorro não m ais o veria. Diante de tal pensamento, ela imaginou que ser enterrada, ela própria, com o anel, faria com que nunca tivesse que ficar sem vê-lo, mas para isso teria que morrer antes de sua avó.

Ficava em pânico quando vovó Maria passava mal, pois temia que a velha fosse e junto com ela, seu tão sonhado anel de pérolas. Ah, como ficara encantada por aquele anel desde o primeiro dia que o vira, naquele longínquo 21 de maio de 1988, há cinco anos. Ficara apaixonada pelo anel dourado, ornado em toda sua circunferência por pequenas perolinhas, bem branquinhas. Parecia o anel de uma princesa.

Quando vó Maria percebeu que a neta almejava o anel, passou a escondê-lo de seus olhares, pois achava doentio o desejo da neta em ter seu anel de pérolas. Um dia, após o almoço de domingo, Socorro foi até o quarto de sua avó em busca do anel, só para poder olha-lo um pouco. Quando a avó se deu conta de que a neta havia sumido de sua vista, tratou de procurá-la, achando-a em meio a sua desesperada busca. Após repreende-la, vó Maria perguntou o porque de tanto amor pelo anel, e sua neta acabou lhe revelando o sonho de sua vida. Achando graça, a avó prometeu que se Socorro morresse antes dela poderia ser enterrada com o anel, certa de que isso não aconteceria e como tentativa de acalmar a ânsia da menina.

Mas a tentativa de vó Maria fora errada, pois diante de tal promessa, o desassossego que havia no coração de Socorro se findou. Disposta a realizar seu sonho sem correr o risco de perdê-lo, Socorro subiu as escadas em direção ao sótão, com seus pezinhos de criança. Abriu a janela do local e ficou em pé sobre o parapeito, sentindo o ar quente daquele tarde de final de novembro lhe tocar a face, como se a convidasse para sua eternidade. Sem vacilar, a pequena Socorro se atirou de cabeça em direção ao chão, de cabeça em direção à realização de seu sonho.

No dia seguinte foi realizado o velório de Socorro. Trajava em vestido rosa claro e estava circundada por rosas brancas. Os sapatinhos eram de um creme envelhecido. Tinha a expressão serena e doce, realizada, como se pudesse sentir o anel de pérolas que estava em seu anelar esquerdo. Conseguira. Socorro, diferente de tantas outras pessoas que vivem à espera de um sonho, havia conseguido realizar o sonho de sua vida.

sábado, 23 de outubro de 2010

A triste história de Dolores

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Dolores estava sentada no sofá do ano de 1968, ano em que sua casa fora construída, assistindo à um filme do ano de 1981 no videocassete de 1989. Dolores já estava cansada de ver aquele filme. Pudera, ela já o havia visto cento e setente e nove vezes, contando com essa. Já sabia a fala de todos os personagens e os gestos que fariam, as músicas de fundo que tocariam e o cenário em que estariam os personagens. Acontece que o filme passou a fazer parte de sua vida e ela não era a mesma se não o assistia, seus dias ficavam cinzas e vazios.

Dolores não sabia, mas depositara no filme toda sua história de vida, que não havia vivido, a história de amor que, em sua história, nunca existira. Justamente por isso assistia tanto ao filme, para que de uma forma ou de outra ele se tornasse sua vida, que nascera carente de emoção há sessenta e sete anos. Embora não soubesse, os outros sabiam que a vida de Dolores era algo solitário a se lamentar, como uma lamúria ecoando pelo vazio do tempo. Mas ela se sentia feliz sentada em seu velho sofá, sozinha em sua velha casa, assistindo ao velho filme de sua vida.

Mas a felicidade de Dolores estava prestes a acabar. O canto do pássaro negro rasgou o silêncio da noite erma como um prenúncio de que maus tempos batiam à porta. À velha porta solitária e poucas vezes aberta da casa da sexagenária Dolores. Enquanto a escuridão da noite persistia, o pássaro negro tratou de entrar pela janela da velha senhora, portando-lhe a má notícia de que lhe era chegada a má hora. Quando amanheceu, a luz do sol invadiu a casa, ofuscando a imagem pausada na tela da velha televisão, último pedido de Dolores: que morresse vendo o beijo de sua vida, que nunca havia dado ou recebido.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

As diferenças entre nós

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Na aula de sociologia de ontem a noite, minha professora relembrou um caso recente para exemplificar as diferenças de cultura entre os povos: o caso da jovem afegã que saiu na capa da revista Time há poucos meses, sem o nariz e as orelhas.

A garota, de nome Aisha, casou muito cedo, como é costume naquela região, mas acabou fugindo de casa devido aos maus tratos que sofria do marido. A fuga não foi bem sucedida, e quando foi encontrada por familiares de seu marido e levada até ele, Aisha teve seu nariz e suas orelhas cortadas, e quase morreu devido à grande quantidade de sangue que havia perdido. O caso chocou a todos do mundo ocidentalizado, que define esse ato como desumano e abominável. Entretanto, dentro do Afeganistão, a atitude do marido foi tida como correta pelo regime taleban (sob o qual todos ali vivem), sendo que as mulheres que desobedecem seus maridos devem ser punidas.

As diferenças culturais são extremamente exacerbadas de um lado a outro do planeta. Como explicar um mundo em que mulheres vivem normalmente em um determinado lugar, podendo sair livremente pelas ruas das praias com trajes de banho, sem ser motivo de escândalo e outro lugar em que a mulher tem de aguentar as punições físicas de seu marido, apoiadas pelo regime que governa o lugar em que vive?

Os direitos humanos, declaração propalada aos quatro ventos, não chegou a esses lugares. Um país não pode intervir no governo de outro sem ocasionar uma guerra, tem de ser respeitada a supremacia de cada Estado. Então temos de respeitar as diferenças culturais de cada Estado, mesmo que isso fira o que sabemos ser certo e justo, e continuarmos a viver sem nos preocuparmos com o que acontece com pessoas que estão sob o jugo de governos atrasados e autoritários?

Culturas à parte, acredito que nenhuma delas, por mais antiga que seja, tem o direito de sacrificar vidas e a liberdade de seu povo. Nenhuma cultura poderia ser mais forte e se impor ante à liberdade e à integridade física e moral do cidadão. Em pleno século XXI, é triste que ainda tenhamos tantas formas de governo e cultura que desprezam o ser humano por qualquer de seus atributos: ou porque são deficientes, ou porque são mulheres, ou porque são negros...e por aí vai. A humanidade já trilhou um longo caminho, mas ainda há muito que caminhar para que o ser humano seja respeitado em sua pluralidade de culturas.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nobel de Literatura

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Já é sabido que o Prêmio Nobel de literatura deste ano foi concedido, muito merecidamente, ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, de 74 anos. Com uma vasta carreira literária, Vargas Llosa é também um dos escritores mais politizados e contra o regime esquerdista que impera nos países da América Latina. Em recente entrevista, o escritor declarou ser contra o populismo, os governos de esquerda e a favor do liberalimo, tendo até mesmo se candidatado à presidência do Peru no ano de 1990, mas acabou sendo derrotado pelo populista e corrupto Alberto Fujimori. Atualmente, Vargas Llosa leciona em aulas especiais na Universidade de Princeton e reside em Nova York. De todos os seus livros, o mais conhecido deve ser ''A Guerra do Fim do Mundo'', que narra a Revolta de Canudos liderada por Antonio Conselheiro no sertão do Brasil. Entretanto, entre a minha lista particular de favoritos desse grande escritor estão ''Travessuras da menina má'', mais recente, que conta a história do louco amor de Ricardo por Lily, a menina má, que ele conhece ainda criança e pela qual se apaixona perdidamente durante toda sua vida e ''A Cidade e os Cachorros'', onde o escritor narra a vida dos cadetes em um colégio militar regido por um violento código de conduta. Afora esses livros, Vargas Llosa é dono de uma vasta obra que deveria ser lida por todos que gostam de literatura e pelos que não gostam também, pois com certeza passariam a gostar!

O que me pergunto é porque é tão difícil um latino americano ser contemplado com o Nobel. Vargas Llosa precisou chegar ao ápice de seus 74 anos para ganhar o prêmio. Já o escritor colombiano Gabriel García Máquez foi o vencedor no ano de 1982, também de forma merecida, tendo escrito romances que se eternizaram, como ''Cem Anos de Solidão'' e ''O Amor nos Tempos do Cólera''. Além dele, o poeta chileno Pablo Neruda recebeu o Nobel em 1971, emoção vivida pelo autor e narrada magistralmente em seu livro de memórias ''Confesso que Vivi'. No entanto, não vemos maiores prêmios concedidos a escritores latino americanos, muito menos brasileiros. Nenhum brasileiro ganhou o Nobel. É triste pensar que um país que tem como principais nomes da literatura Machado de Assis, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, João Gumarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles e Clarice Lispector, dentre outros, não tenha sido contemplado com o prêmio por razões políticas internas que regem o Nobel de literatura. Infelizmente por traz de tudo há a questão dos interesses particulares que sempre acabam levando a melhor e decidindo quem ganha ou quem perde, tirando a magia de algo que poderia ser mais verdadeiro. Mas à parte as chateações nacionalistas, parabéns à Mario Vargas Llosa, por ter me proporcionado incríveis momentos á sós comigo mesma enquanto me afundava nas histórias encantadoras de seus livros.

domingo, 17 de outubro de 2010

Escolhas

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Esse post é basicamente um desabafo pessoal, sem conotação metafórica ou poética. É o dramalhão mexicano que minha vida se tornou desde que meus pais descobriram que namoro com uma menina. No começo foi aquele inferno, uma tortura constante e diária. Meu pai querendo quebrar meu celular, minha mãe querendo me matar a pauladas e meu irmão me apoiando nas horas livres e tirando o corpo fora quando necessário estar ali. Passado alguns meses da surpresa da descoberta, meus pais pareciam abrandar, e de uma forma um tanto peculiar, respeitar o que eu havia escolhido. Mas, ledo engano meu ao achar que eles talvez estivessem se conformando. Nesse final de semana, como sobrou um dinheiro do feriado, minha namorada e eu decidimos que ela viria para minha cidade me visitar (sim, para complicar tudo ela mora em São Paulo e eu no interior). Nos vimos de forma relativamente tranquila na sexta à noite, no sábado durante a tarde e a noite de sábado foi bem sussegada de início, fora minha dor de garganta e minha gripe repentina. Quando pensava que meu final de semana iria se passar sem incidentes, o telefone do hotel toca. É minha mãe, insana, querendo que eu voltasse para casa, preocupadíssima com meu bem estar pessoal (lógico que isso é uma ironia, pois a única coisa que ela queria era acabar com minha noite). Após uns poucos xingos que ela proferiu a minha pessoa ao telefone, saí do hotel e da companhia do meu amor transtornada, não acreditando que depois de um ano e um mês de namoro eu ainda precisava passar por esse tipo de coisa. Chorei minha desgraça ao deitar na minha cama, com raiva, perplexidade e tristeza. Muita tristeza. Não peço nada para os meus pais em relação ao meu namoro, a não ser que respeitem minha escolha e me aceitem como sou, sem me crucificar e me julgar. Ainda respeito horários para voltar para casa, sou companheira fiel da minha mãe e nunca deixo de fazer as coisas por ela. Mas quando peço um pouco de respeito pelas escolhas e pela minha vida, não tenho. Percebi ao longo desse caminho que minhas escolhas só seriam respeitadas se elas fossem de acordo com o que querem meus pais, caso contrário teria que passar por um perrengue daqueles. E passo! O mais complicado de tudo é que ainda sou uma pré adolescente, pois tenho só 21 anos e acabei de chegar ao mundo, então nada mais justo do que voltar 2 da manhã pra casa num sábado ou ser proibida pela mãe de falar ao telefone com minha namorada!

Enfim...de qualquer jeito, o fim de semana já passou, minha namorada já pegou o trem das onze e foi pra capital. Enquanto isso, sigo sozinha aqui pelo interior, ansiando pelo dia em que tudo isso for passado e minha vida estiver do jeito que eu quis pra mim, sem que ninguém se incomode com isso. Minhas escolhas quem faz sou eu. O caminho que desenho, quem trilha por ele, sou eu. Pra fechar, um poeminha que eu amo!

"Caminhante, tuas pegadas
são o caminho, nada mais.
Caminhante, não há caminhos,
faz-se o caminho ao andar."

Antônio Machado

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mudanças

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Não adianta. Por vezes, por mais que queiramos parar o tempo, não conseguimos. Na verdade nem tentamos, porque sabemos que não conseguiríamos, mas enfim. O tempo não pára, tudo está em constante transformação, inclusive nós. As mudanças podem não ser visíveis em pouco tempo, mas dentro de um tempo maior fará toda a diferença. O tempo trás consigo as mudanças e somos levados por elas sem que percebamos o quanto nos modificamos. Mas é impossível medir o quanto mudamos, justamente por estarmos mudando a todo segundo. Já não sou mais a mesma pessoa que começou a escrever esse texto, algumas mudanças irreversíveis ocorreram em mim sem que eu nem me desse conta, assim como provavelmente ocorreu em você, mas que ainda não percebeu. Como disse Heráclito há alguns milhares de anos atrás, " não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, porque o rio já não é mais o mesmo e nós não somos os mesmos". Assim como as águas do rio passam trasformando ele e nunca deixando que este seja estaticamente igual, pois a água que por ali passa já não é mais a mesma, nós nunca seremos iguais ao que éramos a poucas horas atrás, mudando a todo instante ou nosso exterior ou o que temos dentro de nós.


A vida é uma estrada cheia de caminhos desconhecidos. A cada hora que vivemos, vamos traçando parte desse caminho. Todo caminho que fazemos faz parte do que nos tornamos, parte de nossas mudanças e do que somos em essência. Penso nas escolhas que fiz e no caminho que estou trilhando, e vejo que a vida nada mais é do que uma mudança constante e ininterrupta. Esses caminhos podem ser comparados a uma árvore que aos poucos cresce. A árvore representaria nossas vidas. Quanto mais vivermos, maior será a árvore. Se cada pessoa analisasse a árore de suas vidas, provavelmente encontraria muitos galhos secos, que seriam aquelas chances que não aproveitamos, aquilo que deixamos pela metade do caminho, inconcluso, inacabado, abandonado e desistido. Os galhos secos seriam as chances que não ocorreram, os possíveis caminhos que não foram. Outros galhos seriam aqueles que concluímos e que fazem parte de nossas vidas, do que nos tornamos, enquanto outros galhos surgem constantemente como alternativa do galho em que estamos. Devemos não deixar passar grandes oportunidades e nem desistir do que queremos, pois uma vez seco o galho, dificilmente voltará a florir. Façamos de nossa constante mudança algo que realmente queremos para nossas vidas, pois a única coisa permanente na vida é a mudança.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Amor antigo

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Ela sentou na poltrona que lhe era destinada e veio pensando o caminho todo no futuro. Inconformada pela partida, tentava alcançar pela memória a previsão de fatos que ainda não ocorreram. Pensava que seria bem melhor se as coisas se resolvessem sem que se precisasse lutar por elas, mas não era assim, nunca as coisas boas vinham sem luta. Como é bom sonhar o futuro... Mas sem viver o presente o futuro não acontece, nada sai do lugar, os sonhos não se realizam. E enquanto o futuro não chega e os sonhos se mantêm suspensos, ela pensa no amor de ontem, hoje e amanhã. Só por esse amor deixaria os sonhos suspensos e pararia a vida. Só por esse amor se inconformava pela distância e deixava de viver o presente só. Só pelo amor que sentia estava sentada onde estava, retornando à casa, pois se não fosse amor sequer teria partido. Enquanto o céu desanuviava, pensava no amor do ontem, do hoje e do amanhã. Grande o amor antigo, aquele que não se consegue medir e que permanece eternamente em nós.


Ao amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,

não de cultivo alheio ou de presença.

Nada exige nem pede. Nada espera,

mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,

feitas de sofrimento e de beleza.

Por aquelas mergulha no infinito,

e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona,

aquilo que foi grande e deslumbrante,

o antigo amor, porém, nunca fenece

e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança,

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,

e resplandece no seu canto obscuro,

tanto mais velho quanto mais amor.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A questão do aborto no 2º turno

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É sabido e notório que a popularidade de Dilma caiu, e muito, quando o PT resolveu apoiar a discriminalização do aborto no país durante a campanha eleitoral. Agora no segundo turno das eleições, com a vitória de Dilma ameaçada pela subida de Serra, o PT estuda tirar o aborto do programa, para talvez estancar a queda da petista.

O programa em prol da discriminalização do aborto que o PT pretendia empregar esbarra em preceitos religiosos profundamente arraigados nas mentes brasileiras. A Igreja ainda detém poder de voz no país e muitas das decisões que deveriam ser tomadas esbarram na Igreja, porque um Estado que se propõe laico não deixaria que as decisões do alto clero e suas ordenadas interferissem tanto na ordem social do país.

Embora a questão da discriminalização seja algo sério a se debater, devido principalmente à questões de saúde pública, há que se pesar na balança o que é justo e o que é injusto no aborto. Nos dias de hoje, com tantos métodos contraceptivos, tantas formas de prevenção, seria mesmo necessário algumas mulheres terem de fazer aborto pois engravidaram em uma hora que não lhe agradou? O corpo é nosso, mas a vida que estaríamos carregando não. Então, deixando a parte as questões religiosas, qual o direito que temos sobre a vida de outra pessoa? E como podemos decidir se ela continuará a viver ou morrerá?

Atualmente, o aborto é definido como crime no Código Penal, com pena de reclusão a quem o pratica. Se o PT fizesse o que propunha no primeiro turno, haveria a extinção dessa figura no Código Penal e o aborto, tratado como tabu e crime hoje em dia, deixaria de o ser, de uma dia para o outro.

Há um tempo atrás, eu era a favor da discriminalização do aborto, por achar que o meu direito e o direito de quem quer que seja que ficasse grávida, deveria ser respeitado, e caso eu não quisesse ter aquele filho, não precisaria, pois antes um filho não nascido do que um não desejado. Mas isso não é o justo, o correto, o certo a se fazer. Não sou religiosa, mas acredito em Deus. Não sigo cartilhas pré definidas de religião alguma e não concordo quando a Igreja católica tenta barrar o aborto por estupro ou aquele que põe em risco a vida da gestante. Mas também não gostaria de viver em uma sociedade onde o assassinato de crianças ainda em ventre materno fosse tratado de forma normal. O direito à vida está acima das deficiências que o Estado tem de manter os órfãos e os abandonados. Não importa qual seja a questão de saúde pública que se queira pleitear em favor do aborto, com certeza nenhuma delas é maior do que a vida de qualquer pessoa. Num país onde milhões de reais são desviados dos cofres públicos, seria um sacrilégio permitir o aborto por falta de dinheiro para a saúde e a educação dessas novas crianças. Em vez de legalizar o aborto, que se eduque melhor a população para que todos tenham consciência de como prevenir uma gravidez, para que no futuro não tenham que tirar a vida do próprio filho sem direito algum recorrendo a clínicas clandestinas de alto risco. Portanto, vamos reavaliar as propostas dos candidatos e ver do que realmente somos a favor.

domingo, 3 de outubro de 2010

Eleição

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Hoje é dia de votar. Só de pensar em ir até o colégio e votar me dá uma preguiça que me consome a alma! Mas enfim, sei que de uma forma ou de outra é importante, pois temos que exercer a nossa cidadania. Será mesmo?

Durante toda a campanha, assim como nas anteriores também ocorreu, fomos metralhados por propagandas dizendo que no dia 3 de outubro teríamos que exercer a nossa cidadania, votando nos candidatos escolhidos. Entretanto, não acho que seja exercer cidadania ir até o local onde se vota e votar em quem mal se conhece. O voto cidadão precisa ser aquele voto consciente, aquele no qual você realmente deposita suas expectativas e sua confiança para que nos próximos quatro anos algo mude no país, que o candidato cumpra o que prometeu em sua época de campanha.

Se não conhecer o candidato em quem pensa votar, nem vote. Exercer a cidadania é ter consciência de cada ato seu, portanto, nenhum ato inconsequente vale para a cidadania. E outra coisa, nada de votar em Tiriricas da vida como forma de protesto, pois serão eles que estarão no Congresso Nacional representando toda uma nação. Quer protestar, vote nulo, assim você exerce sua cidadania e protesta de uma forma clara e que não comprometa o futuro do país.

Dos três candidados à presidencia que realmente tem um percentual de votos que valha a pena ser mencionado, estão Dilma, Serra e Marina. Os jornais internacionais de hoje, segundo sites de notícias, dão a vitória certa para Dilma Rousseff, a única dúvida é se ganha no primeiro turno ou se encaminha a vitória para o segundo turno e diz que a classe C brasileira é quem elegerá Dilma como sucessora de Lula, provavelmente devido ao carisma do atual presindente.

Enquanto Dilma se prepara para o discurso da vitória e os outros dois correm atrás tentando alguma chance, os brasileiros ficam alheios ao processo eleitoral, como se nada daquilo lhes dissesse respeito. E depois reclamam que o país vai de mal a pior.



Ah, e só para ressaltar, tudo que vale para para os candidatos à presidência vale também para os canditados ao governo dos Estados, Senado, e Câmara (deputados federal e estadual). Vote consciente nesse domingo pra não se arrepender depois.