terça-feira, 27 de setembro de 2011

Aquele fim de tarde

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Naquele final de tarde úmido à beira-mar, próximo à casa de tábuas coloridas em que morava, tão próxima da areia que não se conseguia distinguir o que era areia e o que era chão, ela olhava o céu se encher de nuvens e levar consigo o sol escaldante do verão.

O vento trouxe o barulho das risadas das crianças que se aventuravam a ir adiante no mar, até onde a água batia nos joelhos, e voltavam correndo, rindo e gritando, meio divertidos, meio assustados, quando um onda quebrava lentamente quase próxima ao chão.

Olhou as crianças como quem olha uma paisagem, sem sentimento algum, somente o doce contemplar do final de tarde de verão, como se elas não lhe pertencessem, nem fossem suas. Que solidão que deu em pensar que não eram suas. Não gostava de sentir assim, como se coisas que acreditava serem suas não o fossem de uma hora para outra.

Refez o pensamento e começou novamente a olhá-las, desta vez como mãe que era. Como era bom tê-las novamente, sempre perto. Pena que não eram de fato suas, pena que iriam, fatalmente, partir, por mais tardar que fosse. Não podia ter perto de si todos que amava, pois todos sempre iam embora, cada um com sua vida em apartado.

Pena que o vento não trouxesse, assim como trouxe até seus ouvidos o barulho das risadas, as pessoas que partiram sem deixar um último sorriso, deixando seu coração inundado por uma saudade transbordante de tristeza.

domingo, 25 de setembro de 2011

Os cinco melhores escritores do mundo (para mim)!

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Resolvi escrever sobre um tema que gosto muito, literatura. Dessa forma, enumerei abaixo os meus 5 escritores preferidos, que para mim são os maiores de todos os tempos. Que fique claro que é somente uma opinião pessoal, os que divergirem, podem deixar seus comentários e suas opiniões!

1. Gabriel García Márquez

O escritor colombiano foi influenciado por escritos de Franz Kafka, precisamente por “A Metamorfose”. Foi a partir daquele livro que decidiu que escreveria. Pensou consigo mesmo que se Kafka pôde colocar tantos absurdos e irrealidades no papel, ele também poderia escrever sobre o que tinha guardado dentro de si. Foi então que se tornou um dos principais expoentes do realismo mágico, ou fantástico. Basicamente toda a obra de Gabo é salpicada por uma realidade fantasiosa e imaginária, mesclando componentes reais da história e dos costumes da América Latina. Tem entre seus livros mais aclamados “Cem anos de Solidão”, “ O amor nos tempos do Cólera” e “ O Outono do Patriarca”, sendo este último seu livro preferido, apesar de ser mundialmente reconhecido pelo primeiro. García Márquez ganhou o Nobel de Literatura no ano de 1982 e está entre os maiores escritores do mundo, mas em primeiro lugar de minha lista.




2. Machado de Assis

Obviamente, valorizando o que é nosso, não poderia deixar de colocar aqui, abaixo do que pra mim é o maior de todos os tempos, o brasileiro que quebrou todos os preconceitos e é reconhecido mundialmente. Machado de Assis foi autoditada, ou seja, aprendeu a ler e escrever, e tudo o mais, sozinho. Não freqüentou escolas regulares e era filho de uma negra com um branco, numa época em que imperava o preconceito racial. Vindo de família pobre, Machado teve a ajuda de outro escritor de sua época para que desse início ao que faria dele o maior escritor brasileiro. Começou a escrever semanalmente em um jornal e seus contos publicados foram sendo aclamados e reconhecidos pelo público. Dentre as obras mais famosas de Machado de Assis estão “Dom Casmurro”, “Memórias póstumas de Brás Cubas”, “ Memorial de Aires” e “ Quincas Borba”. Machado é reconhecido pela sua vertente realista, sendo que antes de ingressar no realismo Machado escreveu alguns romances na escola literária do Romantismo, não obtendo êxito. Machado não tem Nobel, mas é o trunfo de todos os brasileiros e ocupa o segundo lugar na minha lista.


3. Pablo Neruda

Conhecido como O Poeta, Neruda foi Nobel de Literatura no ano de 1966. O grande escritor chileno é reconhecido por valorizar sua terra em todas as suas obras, declarando seu amor incondicional ao Chile. Ao longo de muitos poemas, Neruda se dedica a descrever as minas de cobre, que cercam o Chile por todos os lados, a Patagônia, lugar em que viveu muito tempo, dentre outras belezas naturais chilenas. Além desses poemas, Neruda é também o poeta do amor, sendo que grande parte de seus escritos tratam de falar de casos do coração e histórias de amor, sendo reais ou fictícias. Afora as poesias, Neruda escreveu um livro de Memórias, “Confesso que Vivi”, uma obra para ser aclamada por todas as gerações. Neruda transforma seus versos em prosa sem que percam o lirismo e relata ao leitor grandes episódios de sua vida. Ocupa então, o terceiro lugar de minha listinha!





4. João Guimarães Rosa

Esse escritor mineiro de Cordisburgo é conhecido por sua complexidade. Tem como pano de fundo de todos os seus romances o Sertão. Mas não aquele sertão conhecido pela maioria, o sertão nordestino, da seca e aridez. Guimarães Rosa retrata em seus romances o sertão de Minas e seus costumes, os grupos que reinam naquele local e quem decide o que acontece naquela terra de ninguém. Em determinadas épocas de sua vida, Guimarães Rosa foi acusado de pacto com o demônio, figura também muito discutida em suas obras, como símbolo do mal, assim como Deus, como o lado oposto, o do bem. Dentre seus livros, sem dúvida alguma “Grande Sertão: Veredas” é o que ocupa o primeiro lugar, seguido por “Sagarana”, “Corpo de Baile” e outros. O escritor também é conhecido por criar novas palavras que acabam por integrar sua personalidade diferenciada como escritor.


5. Fiódor Dostoiévski
Escritor russo de fama mundial, Dostoiévski é para mim o principal expoente da maravilhosa literatura russa. Condenado à morte por ser considerado subversivo ao regime de sua época, foi salvo no último grito e acabou escapando da forca sendo trocada a pena por anos de trabalho forçado na Sibéria. Afinal, a pena rendeu um de seus melhores livros, a meu ver, “Recordações da casa dos mortos”, além de “Memórias do subsolo”. Entre seus maiores livros estão “O Idiota”, pelo qual se tornou mundialmente conhecido, "Crime e Castigo" e "Os Irmãos Karamazóv", a meu ver, seu melhor livro, que retrata de forma completa os costumes da cultura russa e tem um belo tema de fundo para o romance: o parricídio.


Esses são, na minha opinião, os cinco maiores esritores, indispensáveis à formação, pelo menos o foram à minha!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perda

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De tanto querer, o sonho deixou de sonhar e os olhos cansaram de tal maneira que não viam mais o que lhes passava nas vistas. Tudo era cinza e vazio. O querer já não tinha nome. O fim chegou sem grandes tempestades, chegou no silêncio da palavra não dita, no vazio de um olhar, na falta da presença constante. As grandes esperanças se esvaíram de um suspiro cansado de tanto suspirar. Mas no silêncio do que não foi dito, pairou no ar o barulho incessante dos corações, que pulsavam acelerados. A pergunta que ela queria fazer, calou-se. Os segredos que ele queria contar, não podia, pois ela havia se tornado todos eles.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

As Borboletas de Margarida

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Nunca ninguém soube explicar, nem que vagamente, qual era a origem e o por que de aquelas borboletas sempre rondarem a existência de Margarida. Desde que veio ao mundo junto com uma tempestade de dezembro, as borboletas laranjas vieram junto. Primeiro, perceberam a presença delas na enfermaria, na qual deixaram a pequena Margarida à espera de ser levada para casa. Quando deram por conta daquelas borboletas surgidas de forma desconhecida dentro de uma enfermaria, no meio da madrugada, todos deram de ombro e pensaram que deviam estar ali desde antes da tempestade que desaguou naquele fim de tarde e que lá permaneceram até então, só que ninguém ainda as havia visto.

No entanto, as borboletas nunca sumiram da vida de Margarida. Quando ela foi para sua casa com seus pais, um cortejo de pequenas borboletas laranjas e amareladas seguiu o carro e entrou na garagem da casa mais que depressa. Quando os portões fecharam, as borboletas sumiram para reaparecerem depois já dentro da casa, instaladas no quarto que viria a ser da recém chegada Margarida.

Embora desde sempre achassem o fato estranho e curioso, os pais da menina nunca se preocuparam de fato com a presença daqueles insetos amigáveis e que traziam um colorido um tanto vivo ao quarto branco e rosa de sua filha. Na verdade, se acostumaram tanto com a presença dos seres coloridos que quando não as viam logo de cara por perto da filha achavam estranho e logo começavam a varrer com o olhar o chão do lugar onde haviam deixado a filha, temendo que pudessem ter morrido, como um sinal de mau presságio. Mas logo as viam em alguma quina de parede, algum móvel um pouco mais escuro no qual era difícil de serem identificadas.

Os anos foram passando e Margarida, crescendo. Seus cabelos acabaram sendo alaranjados, de um ruivo pálido e vibrante ao mesmo tempo, sempre preso em tranças. Laranjas como as borboletas que pousavam neles. A pele cálida lembrava uma boneca de porcelana e as sardas que tinha pelo rosto, logo abaixo dos olhos, pareciam pequenos desenhos de borboletas que voavam rumo aos olhos da menina. Os olhos azuis, de um azul escuro e impenetrável, no qual, por mais que se olhasse, não conseguia distinguir um átimo de pensamento ou vontade de Margarida.

Como moça bonita que era, não tardaram a lhe aparecer pretendentes. Vinham de todos os lados, de todos os tipos e com todas as intenções, boas ou más. Os que vinham com as más intenções, logo desistiam da empreitada, pois como só queriam usufruir um pouco que fosse da beleza da moça, não conseguiam aturar aquele bando de borboletas sobrevoando suas cabeças e fazendo ventar o ar perto de suas orelhas. Afinal de contas, não valia tanto assim uma transa, qualquer que fosse ela. Já os bem intencionados, embora aguentassem pacientemente as borboletas pairando sobre suas cabeças e pousando em lugares não desejados, ficavam desolados pelo desinteresse da menina. Acabavam, assim como os mau intencionados, desistindo da paixão platônica pela moça com nome de flor do campo.

Com o tempo, os pretendentes de todos os tipos passaram a ser de tipo nenhum. Viram que Margarida vivia em um mundo só dela, com suas amigas de berço sempre ao lado protegendo a ruiva que lhes dera a vida. Parecia que nem era desse mundo. Tudo o que pensava era em voar, num céu azul límpido e sem nuvens, se abrigar embaixo das folhas das árvores e contemplar a beleza do mundo. Os pais já haviam desistido de tentar faze com que se interessasse por pessoas, rapazes ou moças, com quem pudesse partilhar tanto amizades como namoros. Margarida sempre respondia irredutível às investidas dos progenitores: "Não tenho interesse."

Da mocidade fez-se a maturidade, e dela fez-se a velhice, que chegou muda e na ponta dos pés, com medo de ser notada e que lhe fugisse o corpo tão almejado no qual pudesse habitar. As sardas, antes completamente visíveis nas bochechas da agora velha senhora, estavam enrugadas, amassadas pelo tempo. As borboletas também alcançaram a velhice junto com Margarida, mas estavam tão velhas quanto ela, parecendo folhas contorcidas ao vento. Nem voavam mais, ficavam pousadas o tempo todo na poltrona em que a velha tecia guardanapos de todas as cores que tinha na caixa de costuras, com muitas borboletas desenhadas. E assim passavam os dias da velhice de Margarida.

Embora nunca houvessem lhe dado uma resposta para o caso das borboletas, Margarida tinha uma, pensada e projetada por ela mesma. Acreditava que as borboletas lhe deram a vida, por isso pudera viver tão bem. E só assim o vivera por que dedicara muito de seu tempo, senão todo ele, a ser amiga e companheira daquelas que tinham nascido com ela e estado ao seu lado em todos os momentos de sua vida. Fora fiel a quem por ela tinha feito muito. Quando contou sua teoria a alguma vizinha fofoqueira, logo começaram a falar que a senhora do 9 tinha perdido a razão, criando uma história na qual transformou em Deus as borboletas.

Margarida não ligava. Sabia que se tivesse fé em algo, como tinha em sua certeza, não importava o que dissessem, pois saberia ser verdade aquilo que sempre teve fé. Tinha fé nas borboletas, que de uma forma ou de outra coloriram seus dias, acompanharam seus passos, avisaram de sua chegada para outras pessoas e foram fiéis sempre, mesmo quando não havia mais fidelidade nesse mundo.

Numa manhã cinza do mês de julho, amanheceram todas mortas. As borboletas, murchas pelo tempo, caídas em cima do lençol branco, junto ao pé de Margarida. Essa, por sua vez, ia embora junto com as companheiras de sempre, que lhe deram vida enquanto viveram e a levaram consigo quando morreram. Fiéis como sempre.