segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chuva

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Vivo a vida ansiando por dias de chuva. A chuva é para mim o que é para alguém que mora em pleno sertão nordestino, na parte esturricada pela seca: uma realização. Tudo com chuva é mais bonito, mais atraente, mais aconchegante, mais solitário, mais introspectivo. Vivo melhor nos dias de chuva como morcegos vivem melhor a noite ou como minhocas vivem melhor em baixo da terra. Respiro melhor, caminho melhor, penso melhor, sinto mais as coisas à minha volta.
Quando era criança, achava que a chuva vinha quando choravam os mortos lá de cima. Ficava preocupada por estarem tristes e chorando, e me sentia culpada diante da minha felicidade em ter a chuva. Mas com o tempo perdi a crendice de que a chuva era o choro incessante dos mortos e passei a acreditar mais em efeitos meteorológicos mesmo, entretanto, a chuva nunca perdeu o encanto pra mim. Nada é mais perfeito que dias de chuva, não existem melhores sentimentos do que aqueles que surgem com a chuva do céu cinzento.
Penso nas gotas de chuva hoje como um consolo particular, como o refúgio de minha alma dos dias quentes e cheios de luz, cheios de gente, conversa fiada, suor escorrendo pela testa e um turbilhão de emoções. É como se a chuva serenasse minhas ansiedades e acalmasse meu espírito. Melancólica ou não, viveria a maior parte dos meus dias debaixo de chuva ou de um céu cinzento.
Caso seja verdade a história na qual acreditava quando criança, de que as gotas de chuva são lágrimas vindas do céu, que perdoem-me os que tanto choram, mas desejaria que chorassem eternamente!

Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não,
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.

(Cai chuva do céu cinzento - Fernando Pessoa)

domingo, 26 de setembro de 2010

Preconceito

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Uma mãe e sua filha estavam num supermercado no final da tarde, fazendo as compras para o jantar. Naquela noite iriam receber em sua casa pessoas importantes, da alta sociedade local. A mãe, enquanto passava as compras no caixa, observava sua filha de cinco anos, cabelos lisos e louros e a pele branca como leite, rodopiar de um lado para o outro. Crianças. Achou graça e começou a pagar a conta. Quando olhou novamente para frente, viu uma cena da qual não gostou. Sua filha, por ser tão inocente, estava conversando com outra garota, poucos anos mais velha que ela, uma garota negra.

A mãe pagou apressadamente a conta e saiu em disparada na direção da filha:

- Filha, o que você está fazendo? Não gosto que converse com esse tipo de gente.

- Como assim esse tipo de gente, mamãe? – respondeu a menina loura.

A mãe elevou a voz e disse:

- Coloque sua mão junto à mão dela.

A menina loura e a menina negra obedeceram.

- Vê – disse a mãe – você e ela são muito diferentes, não percebe?

As duas meninas se confrontaram e a loura respondeu:

- É verdade, não tinha percebido, mas a mão dela é bem maior que a minha.



Quem dera a humanidade sempre tivesse se comportado com a inocência das crianças, que não vêem diferenças entre seus semelhantes. A humanidade teria se saído muito melhor se governada por pessoas que não tem os olhos vedados pelo preconceito.

sábado, 25 de setembro de 2010

Solidão

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Ontem a noite, olhando fotos de árvores dos mais variados tipos, sem motivo específico, percebi o quanto árvores solitárias sempre me encantaram. Desde pequena vejo algo de diferente em árvores que ficam isoladas por quilômetros de qualquer coisa que seja pelo menos da metade de seu tamanho. Elas sobrevivem sós, vivem sós, crescem sós e morrem sós. Embora cada árvore abrigue um ecossistema, ela por si só acaba sempre sendo solitária. Por vezes fico observando-as, imaginando como seria levar uma existência completamente só e sem movimentos. Embora veja beleza nessas árvores que ficam solitárias por toda vida, percebo que o ser humano não conseguiria jamais ser forte como a árvore, que pode crescer e viver sem ter outra semelhante ao seu lado, ao passo que nós, humanos, não conseguimos nos desenvolver sem nossos semelhantes, e somos tão dependentes uns dos outros que morreríamos se nos largassem ao lado de árvores solitárias, para ver se aprendemos a crescer e viver como elas.
Não sei até que ponto gostaria de ser como as árvores, que podem sem problema nenhum levar uma existência solitária. Prefiro viver entre pessoas, que embora por vezes nos tragam dissabores, dão aos nossos dias mais vida, preenchendo o vazio que temos dentro de nós. Mas que há algo de belo na solidão, mesmo que de uma árvore, isso há.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pela hora da morte

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Às vezes, as más notícias chegam no cair da noite, como um vento frio que percorre a espinha e deixa a barriga gelada de apreensão. Foi o que aconteceu. É como se algo saísse do lugar, algo que devesse estar ali, sempre, vivendo outra vida, sentindo coisas, dando alegrias, não estivesse mais lá. E não está. Não me fazia companhia, não vivia a vida comigo, não me dava alegrias nem dissabores, mas fazia parte de minha estrutura.
Quando perdemos alguém, por menor que fosse o contato nos dias de hoje, percebemos de fato como essa perda nos faz perder algo. Algo dentro de nós, adormecido pelo tempo, mas que de certa forma construiu algo e deixou sua marca, passou pela sua história e fez de você quem é hoje, ajudou a te ''construir''.
Diariamente não lembramos de ligar pra pessoas que gostamos, de manter contato com familiares que nos são importantes, não lembramos sequer de abraçar pai e mãe, de dizer o quanto são importantes. Não lembramos de dizer que amamos aos amigos, irmãos, pais, companheiros. Deveria ser um exercício constante, uma prática diária, algo natural. No final das contas, perdemos quem nos ajudou a nos construir sem nem sequer saber como estavam, o que tinham feito nos últimos anos, o que planejavam fazer nos próximos.
Não deixar de dizer o quanto são importantes as pessoas que de fato nos são deveria ser uma lei. É importante que todos saibam isso em vida, e não que recebam homenagens e declarações depois que morrem. Portanto, não deixe o hoje passar em branco, não deixe de dizer o que sente a quem te é importante, pois a vida é um labirinto de inconstância, e embora estejamos aqui hoje, amanhã já não se sabe.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cem anos de solidão

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A narrativa fantástica de ‘’Cem anos de Solidão’’ tem ares da mais completa banalidade, sendo todo o romance salpicado por momentos pitorescamente cotidianos. O autor colombiano Gabriel García Márquez faz de algumas experiências pessoais o arcabouço para escrever sua principal obra, recheada de fantasias, misticismo e nostalgia, tornando-se um clássico do chamado realismo fantástico. A narrativa cíclica nos dá a sensação de continuidade e repetição com o passar do tempo: é a abolição da estrutura tradicional.

O romance relata a saga dos Buendía, que se inicia com a criação da fictícia Macondo, terminando quando ocorre a decadência do vilarejo. Macondo é fundada pelo patriarca José Arcádio Buendía e sua esposa Úrsula Iguarán, juntamente com algumas outras pessoas. A partir de então, a família Buendía passa a ser o eixo central da história, que termina quando o último Buendía consegue decifrar as escrituras que prediziam o futuro da família. Com uma quantidade infinita de Aurelianos com o passar das gerações, o fim de todos nunca é diferente: a solidão. A narrativa fantástica beira o absurdo, influências claras de García Márquez pelo escritor tcheco Franz Kafka. Em meio a pessoas centenárias, chuvas que duram anos, espíritos agoniados, amores eternos e incestuosos, crianças com rabo de porco, sanguinários guerrilheiros, misteriosos ciganos, epidemias de perda de memória, cortejo de borboletas amarelas e belezas esplendorosas, como a de Remédios, a solidão é uma veia sempre pulsante no corpo do livro, correndo por todos os lados e abarcando toda a estirpe dos Buendía sobre a terra. A saga da família que viu Macondo nascer e morrer é triste e emocionante.

Durante toda a leitura, percebemos um tom nostálgico na narrativa, como se García Márquez relembrasse sua infância e histórias que ouviu quando pequeno. O livro tem um quê de fábula, histórias da carochinha que vão acontecendo numa realidade um tanto alternativa, mesclando componentes reais da realidade latino-americana com o mundo mágico de Macondo, tendo os Buendía que passar por episódios importantes da história da Colômbia mesmo na ficção, como guerras civis, ditaduras e imperialismo. Segundo García Márquez: “A literatura não precisa inventar quase nada, a realidade é toda inacreditável quando se decide visitar e desvendar certos capítulos da história”, assim, ele constrói uma narrativa fantasiosa pautada na realidade inacreditável por ele descrita, como o surgimento do imã, da lupa e do gelo na fictícia Macondo.

Depois de mais de 40 anos de sua publicação, não é difícil entender o porquê de Cem anos de solidão ser uma obra única e inesquecível: “Cem anos” é um épico da América Latina, uma cartilha completa dos costumes e tradições de um povo pouco valorizado em termos de literatura até então, que surge com uma história forte justamente à época do “boom” literário sul americano. Embora García Márquez escreva lindamente, o livro vale sua força de sua história, com a qual todos se identificam, embora pareça surreal, à primeira lida. Podemos não ser vítimas de uma maldição, mas todos carregamos algo de só em nossos corações, não se findando essa solidão com o passar dos cem anos, mas persistindo eternamente enquanto houver vida sobre a terra.

Amizade...

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Hoje pela manhã, assim que acordei, abri as gavetas do armário que fica ao lado da minha cama, procurando alguns clipes para prender um texto. Nessa passada de olhos, me deparei com um baú, um bauzinho na verdade, onde guardo minhas cartas de infância, cartas de amigos daquela época.

Resolvi abrir o baú e ver que cartas teriam ali, pois eu nem me lembrava de nada que pudesse estar escrito. Acredito que lá existam mais de cem cartas, todas enviadas durante minha época de infância, quando eu e minhas amigas achávamos super importante trocar essas cartinhas, embora nos víssemos todos os dias durante o dia todo.

Quando comecei a ler algumas delas que estavam lá, foi difícil lembrar de situações ali descritas, pois minha memória não conseguiu alcançar aqueles problemas de outrora. Acho que se perderam para sempre essas lembranças, exceto pelo escrito nas cartas, pois não guardo recordação em minha memória de muitos desses acontecidos.

Mas o que mais mexeu comigo, o que me deixou mais feliz, foi ver que as cartas que estavam ali eram assinadas pelos meus melhores amigos daquela época, mas que não se perderam com o tempo, pois continuam sendo o que eram até os dias de hoje, passados cerca de onze anos.

Como é bom perceber que estamos passando pela vida construindo coisas sólidas, e não castelos de areia, que desmancham com a água e com o vento. Espero que daqui a trinta, quarenta anos, quando tornar a ler essas cartas, ainda tenha seus remetentes como pessoas presentes em minha vida.


domingo, 19 de setembro de 2010

Felicidade

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A nossa vida é composta por momentos. Uma vida é a junção de vários momentos, todos eles interligados, formando uma história, a história de nossas vidas. Portanto, pra saber se sua vida é, ou foi, uma vida feliz ou infeliz, monótona ou divertida, basta tentar contabilizar o número de momentos bons e ruins para ver qual será o peso que prevalecerá na balança. Tanto os bons quanto os maus momentos passam. Eles passam assim como chegaram, quietos e repentinamente. A felicidade dos bons momentos se esvai na mesmice do cotidiano, já a tristeza dos maus momentos vai embora com as lágrimas que os carregam. Embora a vida sempre caia no mesmo ciclo vicioso, não importa de quem seja ela, devemos nos preocupar em viver os momentos da melhor forma que pudermos, e encontrar a felicidade dentro de nós mesmos, sempre que possível.
Mas, o que é a felicidade?
A felicidade está em vários lugares, em muitos momentos. É a companhia de nós mesmos durante uma tarde fria, é o diálogo inconcluso com seu animal de estimação, é o sorriso sincero e a conversa cúmplice de um amigo, é a presença da família, é o encontro do grande amor. É levantar pela manhã e sentir que tudo está ao alcance das mãos, que tudo pode acontecer, que existe um mundo inteiro de possibilidades todos os dias pra quem se levanta, e que o mesmo mundo estará lá pela manhã seguinte, quando formos dormir. Basta que não deixemos a preguiça se apossar do corpo e a desilusão se apossar da mente, pois tudo ainda existe e pode ser, basta escolhermos viver pela felicidade, e não somente pelo amanhã.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pior que tá, não fica!

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Recebi por e-mail uma entrevista muito interessante e cheia de ''conteúdo''...Feita pela Folha com o candidato a deputado federal pelo PR, Tiririca. Leiam e prestem atenção em como as coisas no Brasil precisam melhorar e como até o futuro do nosso país, hoje em dia, é um deboche.

'Não é piada, é a realidade', diz Tiririca sobre slogan de campanha
FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO

Francisco Everaldo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca, 45, provoca risos e indignação desde que a campanha eleitoral começou na TV. Com o slogan "Vote Tiririca, pior que tá, não fica", ele vai às urnas para tentar uma vaga como deputado federal pelo Estado de São Paulo. É a grande aposta do PR no pleito, tanto que ganhou a legenda de mais fácil memorização: 2222.

Folha - Por que você decidiu se candidatar?
Tiririca - Eu recebi o convite há um ano. Conversei com minha mãe, ela me aconselhou a entrar porque daria pra ajudar as pessoas mais necessitadas. Eu tô entrando de cabeça.

De quem veio o convite?
Do PR.

Como foi?
Por eu ser um cara popular, eles acreditaram muito, como eu também acredito, que tá certo, eu vou ser eleito.*

Sabe o que o PR propõe, como se situa na política?Cara, com sinceridade, ainda não me liguei nisso aí, não. O meu foco é nessa coisa da candidatura, e de correr atrás. E caso vindo a ser eleito, aí a gente vai ver.

Quais são as suas principais propostas?Como eu sou cara que vem de baixo, e graças a Deus consegui espaço, eu tô trabalhando pelos nordestinos, pelas crianças e pelos desfavorecidos.

Mas tem algum projeto concreto que você queira levar para a Câmara?
De cabeça, assim, não dá pra falar. Mas como tem uma equipe trabalhando por trás, a gente tem os projetos que tão elaborados, tá tudo beleza. Eu quero ajudar muito o lance dos nordestinos.

O que você poderia fazer pelos nordestinos?
Acabar com a discriminação, que é muito grande. Eu sei que o lance da constituição civil, lei trabalhista... A gente tem uma porrada de coisa que... de cabeça assim é complicado pra te falar. Mas tá tudo no papel, e tá beleza. Tenho certeza de que vai dar certo.

Quem financia a sua campanha?
Então... o partido entrou com essa ajuda aí... e eu achei legal.

Você tem ideia de quanto custa a campanha?
Cara, não tá sendo barata.

Mas você não tem ideia?
Não tenho ideia, não.

Na propaganda eleitoral você diz que não sabe o que faz um deputado. É verdade ou é piada?
Como é o Tiririca, é uma piada, né, cara? 'Também não sei, mas vote em mim que eu vou dizer'. Tipo assim. Eu fiz mais na piada, mais no coisa... porque é esse lance mesmo do Tiririca.

Mas o Francisco sabe o que faz um deputado?
Com certeza, bicho. Entrei nessa, estudei para esse lance, conversei muito com a minha mãe. Eu sei que elabora as leis e faz vários projetos acontecer, né?

O que você conhece sobre a atividade de deputado?
Pra te falar a verdade, não conheço nada. Mas tando lá vou passar a conhecer.

Até agora você não sabe nada sobre a Câmara?
Não, nada.

Quem são os seus assessores?
Nós estamos com, com, com.... a Daniele.... Daniela . Ela faz parte da assessoria, junto com.... Maionese, né? Carla... É uma equipe grande pra caramba.

Mas quem te assessora na parte legislativa?
É pessoal do Manieri.

Quem é o Manieri?
É... A, a, a.... a Dani é que pode te explicar direitinho. Ela que trabalha com ele. Pode te explicar o que é.

Por que seu slogan é 'pior que tá, não fica?
Eu acho que pior que tá, não vai ficar. Não tem condições. Vamos ver se, com os artistas entrando, vai dar uma mudança. Se Deus quiser, pra melhor.

Esse slogan é um deboche, uma piada?Não. É a realidade. Pior do que tá não fica.

Você pretende se vestir de Tiririca na Câmara?
Não, de maneira alguma.

Quem é o seu espelho na política?
Pra te falar a verdade, não tenho. Respeito muito o Lula pelo que ele fez pelo nosso país. Ele pegou o país arrasado e melhorou pra caramba.

Fora ele...
Quem ele indicar, eu acredito muito. Vai continuar o trabalho que ele deixou aí.

Então você vota na Dilma.
Com certeza. A gente vai apoiar a Dilma. Ele tá apoiando e a gente vai nessa.

Não teme ser tratado com deboche?
Não, cara. Não temo nada disso. Tô entrando de cabeça, de coração. Tô querendo fazer alguma coisa. Mesmo porque eu sou bem resolvido na minha profissão. Tenho um contrato de quatro anos com a Record. Tenho minha vida feita, graças a Deus. Tem gente que aceita, mas a rejeição é muito pouca.

Se for eleito, vai continuar na TV?
Com certeza, é o meu trabalho. Vou conciliar os dois empregos.

Em quem votou para deputado na última eleição?
Pra te falar a verdade, eu nunca votei. Sempre justifiquei meu voto.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cotidiano

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Acordei hoje como acordo todos os dias, a cara amassada, marcada pelos sulcos do travesseiro, a cabeça vazia, o corpo ainda fraco pelo sono. Caminhei por toda a casa, procurando algo que me chamasse a atenção, alguma coisa que fosse minimamente surpreendente que me tirasse da monotonia de sempre. Nada mexe comigo. Nem a quase morte de um primo, a não ser por poucas lágrimas, esquecidas depois de alguns minutos. Percebi que estou apática à vida.

Meu sorriso, embora verdadeiro, não expressa minhas angústias e ansiedades, em vez disso as esconde bem dentro de mim, me revestindo de uma capa tão dura, que nem eu mesma consigo quebrar ou sair por alguns instantes dela. Não consigo mais sair do muro que construí ao meu redor, não consigo expressar minhas emoções verdadeiramente, sequer consigo me empolgar com algo novo. Será o novo mal do século? As pessoas se sentem como eu? Digo, o dia a dia é sempre o mesmo dia a dia? Acho desesperador que as coisas aconteçam todos os dias da mesma forma. Nada muda de um dia para outro. Você pode perder alguém querido, pode comprar roupas novas, pode assistir a um bom filme. Mas tudo sempre irá estar e acontecer do mesmo jeito de ontem, do mesmo jeito de sempre. O mesmo caminho, já sem cor, preto e branco, de tanto os mesmos passos passarem lá.

Então a vida é assim. A monotonia do dia a dia, sem surpresas, poucas risadas, poucos diálogos, quando surgem, diálogos supérfluos. A distância que atrapalha a vida, a saudade que lhe tira o sono, a insatisfação que lhe corrói a alma. Falta pouco para os sulcos do travesseiro criarem raízes e fixarem meu rosto de uma vez ao sono eterno, pois de que vale acordar todos os dias se todos eles são iguais? Melhor viver um, mas intensamente, que viver aos poucos o nada do cotidiano.

Tempo...

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Tem meses que os dias passam muito devagar. Às vezes me pergunto se o mês já virou ano, de tão difícil que é de passar. Mas quando penso em tempo que demorou a passar no passado, me surpreendo de ver como passou rápido o tempo que antes era eterno. As coisas do futuro parecem sempre distantes, tão impalpáveis, tão irreais, que quando ele bate à nossa porta até surpreende pelo seu jeito rápido de entrar. Chega sem ser convidado, mas não que não seja esperado. Vai sentando na primeira poltrona e se acomodando, se afundando, até que nos acostumamos a sua presença e logo percebemos que o futuro que chegou já passou, e agora é passado, afundado na poltrona, já cheio de rugas e nostalgia no olhar. Difícil é não sentir falta do passado e não temer o futuro. Pra que o futuro seja um passado repleto de lembranças e coisas marcantes, nada melhor como viver o presente e deixar pra pensar nas coisas do passado ou nas incertezas do futuro quando tudo já for passado, fragmentos, memórias incertas e lembranças saudosas. Nada é melhor que um passado repleto de nostalgia,se não fosse nostálgico, bom não seria! ;)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Concebido Imaculadamente

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Um órgão regulador de publicidade no Reino Unido proibiu essa semana uma campanha publicitária da empresa Antonio Federici, que divulgava um sorvete da marca. Entretanto, essa não era uma simples e comum campanha publicitária. A propaganda do sorvete exibia a foto de uma modelo vestida de freira tomando o sorvete, mas com um detalhe: dentro da igreja, grávida e com os dizeres ''concebido imaculadamente'' ao lado da foto, impondo uma ambiguidade proposital ao fato de ser o sorvete ou a criança concebido dessa forma.

Essa é uma clara rejeição à visita que o Papa Bento XVI empreende esta semana na capital britânica, após alguns séculos de distância, desde 1534, ano da criação da Igreja Anglicana. A empresa responsável por essa imagem diz que irá continuar a campanha na mesma linha em que iniciou, e provavelmente irá rechear de seus cartazes os lugares pelos quais o Papa for passar, incluindo a Abadia Westminster, onde será realizada, além da visita, uma missa na catedral.

Em sua defesa, a empresa Antonio Federici diz que teve uma postura questionadora, usando da sátira e do humor para ressaltar a hipocrisia da Igreja e sua posição frente a questões sociais (como o discurso, a meu ver criminoso, que o Papa fez na África, incentivando a população a NÃO usar camisinha, em um país que tem duas de cada três pessoas do mundo infectadas pelo vírus da AIDS, além da falta de educação e conhecimento de métidos contraceptivos).

A intenção da empresa é confrontar a instituição da Igreja, mas acaba faltando com respeito a milhões de católicos do mundo todo que seguem a religião e têm de ter seus direitos respeitados. E agora, tem alguém certo nessa história?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em busca do pai

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Lendo alguns artigos para uma aula de sociologia, me deparei com uma situação um tanto alarmante: 25% dos brasileiros não tem o nome paterno na certidão de nascimento. Talvez isso mostre, de uma forma superficial, o atraso do Brasil em relação a muitos países e o quanto ainda estamos distantes de chegar perto de uma sociedade igualitária. Enquanto na França menos de 2% tem esse tipo de problema, no Brasil o índice engloba um quarto da população!

O Conselho Nacional de Justiça tem lutado para que uma nova determinação diminua o sofrimento de tantos brasileiros que não são reconhecidos pelo pai, convocando mães de crianças e adolescentes sem o nome paterno na certidão de nascimento para que elas apontem o suspeito pai (caso desejem). A ideia é de que esses homens sejam intimados e de que, se preciso, submetidos a testes de DNA. Na verdade, o CNJ só faria com que os tribunais cumprissem uma função que lhes é atribuída por lei desde 1992.
Entretanto, não basta somente ter o nome do pai na certidão de nascimento e nenhuma mudança significativa para ambas as partes. É preciso que o pai entenda seu papel e participe ativamente da vida do filho, de forma responsável e também afetiva. O pensador canadense Charles Taylor acredita que a construção da personalidade da criança passe pelo reconhecimento de seus ascendentes, e que se houver aí, ao invés de reconhecimento, a ausência, os efeitos para a personalidade e caráter em formação da criança podem ser devastadores. Outra vertente de pensadores diz que uma criança sem a vivência completa no seio familiar, será incapaz de construir uma identidade verdadeiramente estável. Outro aspecto ruim da ausência paterna na vivência dos filhos são os dados assustadores cedidos pelo governo de Santa Catarina: sete em cada dez dos presos daquele estado cresceram sem pai.

A razão de tantas isenções paternas na vida de seus filhos são, provavelmente, heranças de relações coloniais e patriarcais e raízes históricas fincadas no poder da Igreja Católica sobre o território brasileiro. Desde que o Brasil foi colonizado pelos portugueses até pouco tempo, a Igreja proibia que se registrasse o filho tido fora do casamento com o nome do pai! Concílios afirmaram que essas crianças que não eram fruto do sagrado casamento, do casamento legítimo reconhecido pelo catolicismo, eram sementes malditas! Tamanha disparidade vigorou até o ano de 1888, porém, a igualdade entre filhos nascidos dentro e fora do casamento só foi equiparada a partir da Constituição de 1988!

É importante que o Brasil se solte dos preconceitos e das leis impostas não por sua legislação, mas pelas mãos do alto clero, e que haja uma política mais intensa para que diminuam os casos de filhos sem o nome do pai em suas certidões e sem sua presença constante, tão importantes para a formação do caráter e da personalidade do ser humano.
         

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O primeiro post

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A coisa mais estranha é o primeiro post de um blog. Você olha ao redor e fica pensando no que poderia escrever que fosse legal, algo que marcasse sua entrada nesse mundo já tão vasto de blogs...Algo que faça você entrar para os anais da história virtual! É, mas não é tão simples...Espero que as ideias surjam com o passar do tempo, pois confesso que se fosse esperar alguma ideia brilhante surgir para divulgar meu primeiro post, ficaria em frente ao computador até quando minha alma resolvesse passar dessa pra melhor! Será que o primeiro post é uma dificuldade para outras pessoas ou isso só acontece comigo? Acredito que aconteça com outras pessoas, é que as vezes me acho o centro do mundo e acredito que as coisas só aconteçam comigo. Mas não as coisas boas, essas são para as pessoas normais! Geralmente vivo à espera de uma má notícia, mas até que elas tem rareado ultimamente...Não estou reclamando! Espero que tenham ido dar uma volta e se percam no caminho, pra não me encontrarem nunca mais! Bom, não vou me apresentar ou falar da minha vida, mas sempre que quiserem me encontrar, é só blogar por aqui! ;)